sexta-feira, 8 de julho de 2011

Radiografia Cultural- Periferia e Arte no DF


No mês de julho, serão realizados quatro oficinas de graffiti para crianças, comandadas pelos grafiteiros Anderson Fokker, Fábio Pena, Felipe Rdoze e Flávio Soneka. As oficinas vão acontecer aos domingos, das 14h às 17h30, no vão livre do CCBB, onde serão instalados grandes painéis de madeira para a criançada grafitar à vontade. Na terça dia 26 de julho, os grafiteiros que comandaram as oficinas se juntam a Satão, presidente do DF Zulu, para discutir o tema Graffiti e Inclusão Social.

A programação que reúne um ciclo de debates e uma série de atrações artísticas inéditas. Com atrações Mensais o programa tem por objetivo mapear algumas das principais manifestações artísticas das periferias do DF, divulgando e provocando um diálogo inédito sobre os movimentos culturais periféricos no Brasil.

Oficinas dias| 3, 10, 17, 24- 14h às 17h30

Radiografia Cultural| 26 de julho- Terça, 20h

Local| Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília-DF

Entrada Franca.

TV Inesc: Racismo e Igualdade


A TV INESC produz programas quinzenais sobre agendas no parlamento e temas de interesse da sociedade cívil. Nesta semana, apresentamos o programa "Racismo e Igualdade, no qual abordaremos a questão com base no campo das políticas públicas, da educação e, da história e cultura afrobrasileira.

INESC Instituto de Estudos Socioeconômicos - SCS, QD 01, Bloco L, Nr 17, Cobertura
- Ed. Marcia, Brasília/DF - CEP: 70.307-900 - Fone: +55 (61) 3212-0200 - Fax: +55 (61) 3212-0216

Estereótipos do negro nas telenovelas Insensato Coração e Rebelde


Com a internet aumentamos muito a nossa capacidade de comunicação e ganhamos um pouco mais de visibilidade social. Através de emails e redes sociais ampliamos e intensificamos a circulação de informações sobre temas específicos como a presença do negro na mídia e temos criado nossa própria mídia, com sítios, blogs e comunidades virtuais. Em particular sobre as telenovelas temos agora mais oportunidade de opinar sobre o desempenho e os personagens de atores e atrizes negros.


Na atual temporada de novelas duas chamam a atenção Insensato Coração da TV Globo e Rebelde da TV Record.

Em Insensato Coração Lázaro Ramos é o galã canastrão, machista, sedutor, e um profissional bem sucedido que não quer nenhum relacionamento sério com as mulheres e que se vê apaixonado por uma delas. Em Rebelde uma família negra de classe médiasuburbana enredada com a ascensão social de um dos filhos e dos conflitos por isso criados. Um dos destaques da trama é o alcoolismo do chefe de família interpretado porAntônio Pompêu.

Para desagrado de muitos telespectadores os personagens não fogem dos estereótipos mais comuns dos personagens negros nas telenovelas.

Telespectadores, nós sabemos não são críticos de telenovelas, são audiência e suas opiniões são muitas vezes descartadas e algumas vezes servem como referência para os rumos da trama. A influência da opinião de negros numa trama só foi relevante uma ou outra vez em manifestações de racismo explícito sem a devida “punição” ou “correção” ou ainda “erro histórico” em novelas sobre o período da escravidão.

Contudo, na telenovela em geral pela natureza da sua narrativa como um folhetim eletrônico os personagens são sempre estereotipados para serem facilmente compreendidos pelo público.
Os personagens negros num regime de racismo ocultado como o brasileiro, que se caracteriza pela invisibilidade pública do negro ou por representações super estereotipadas do noticiário à ficção, fica mais flagrante o índice dessas representações típicas. Estas características tornam os personagens negros mais marcantes especialmente se são representadas por atores ou atrizes famosos.
Milton Gonçalves, o "pai" alcoólatra de Lázaro Ramos o galã negro na novela Insensato Coração
No caso do personagem de Lázaro Ramos chama à atenção o fato de seu desempenho sexual e profissional não corresponder a uma realidade visível do grande público gerando um estranhamento das opiniões sobre sua legitimidade como galã. Em algum momento seu desempenho sobre o personagem pareceu mesmo “forçado” conforme o próprio ator se manifestou o que parte do público já havia observado com mais ou menos preconceito sobre o galã negro.

Zezé Motta esposa do alcoólatra interpretado por Antonio Pompeu:
Na telenovela Rebelde o estereótipo do alcoolismo pode ser um dado menor num elenco principal de cinco atores e atrizes negros com personagens variados, mas do modo como foi observada a opinião de alguns telespectadores pelo editorial da Revista Raça Brasil isto se tornou mais relevante.
Para o editor-chefe da Revista Raça Brasil o alcoolismo do personagem é um acidente passível da vida de qualquer um “o alcoolismo é uma doença, não é um fator racial”, diz, André Rezende. E quem discordaria disso? Mas chama a atenção, que em Insensato Coração, o pai do personagem de Lázaro Ramos interpretado por Milton Gonçalves, único membro de sua família, seja um alcoólatra. Coincidência, dirão alguns.

Mesmo que se destaque a observação de Zezé Motta de que ela é do tempo “em que o negro na novela não tinha família” - e isso não faz tanto tempo assim. No canal ali ao lado, na TV Globo o galã negro não tem família e o pai é alcoólatra.

Por maior boa vontade que tenha o nosso otimismo de que houveram mudanças nas estórias das telenovelas - e elas ocorreram - podemos ainda verificar sem qualquer dificuldade a repetição dos estereótipos mais comuns - do noticiário à ficção - em relação aos personagens para atores e atrizes negros. Esta repetição ocorre porque ainda são muito poucos os papéis atribuídos aos negros na teleficção com isso a intensidade dos personagens mais comuns principalmente os vilões ou as vilanias ficam mais acentuadas, além da “leitura” que o código do racismo nos orienta e nos deixando alertas para as usas evidências e surpresas.

Precisamos de muitos mais papéis e protagonismos de negros para que seja diluída esta visão que parece irritar o editor da Raça: “ os avanços estão aí para qualquer um perceber, porém, a forma como boa parte da própria comunidade negra encara essas mudanças dá a impressão de que os antigos estereótipos - bandido, traficante pobre, morador de rua... -, são os verdadeiros parâmetros para medir o sucesso e o talento de um ator negro”. Em que pese a boa vontade de corrigir os excessos da crítica pessimista dos telespectadores o editor da Raça também se excede no otimismo da mudança. Ou não, o que você acha?

Informação: Show

Show Cinco Buarques de Holanda em dose dupla!

SARAU DO CORUJÃO DA POESIA NA CINELÂNDIA

Data: 08 de julho de 2011 (sexta) - Hora: 18:30h

Local: SINTCON - Rua Álvaro Alvim, 37/5º andar (ao lado do Teatro Rival BR)

Cinelândia - Rio

ENTRADA FRANCA

Classificação: Livre


SARAU UM BRINDE À POESIA EM NITERÓI

Data: 09 de julho de 2011 (sábado) - Hora: 15h

MAC - Museu de Arte Contemporânea

Local: Mirante da Boa Viagem - Niterói

INGRESSO: R$ 5,00

Classificação: 12 anos




CINCO BUARQUES DE HOLANDA

Um passeio lúdico e visceral com Chico Buarque. Essa é a proposta do pocket-show “Cinco Buarques de Holanda”, apresentado por Rollo (voz) e Jonathan Ferr (piano e teclados). A ideia de um show que reunisse uma releitura swingada da genialidade de Chico, nas suas mais representativas canções, é um desejo alimentado há muito tempo pelo cantor Rollo. O repertório é composto de 10 músicas de autoria de Chico, mas cada apresentação contém apenas cinco composições, escolhidas de forma aleatória. A inovação na estrutura da produção permite que cada apresentação seja única e exclusiva. A brincadeira sonora, mais que bem temperada com pimenta e pegada da negritude, fica por conta do repertório pra lá de seleto – com várias letras e versões censuradas pelo Regime Militar - escolhido pelo próprio Rollo (que vem de uma bem sucedida temporada à frente do show Demasiado Humano, ao lado do Rolo Trio) e por Jonathan Ferr (pianista e arranjador). Da malandragem do “Rei de Ramos”, passando por “Futuros Amantes” e “Las Muchachas de Copacabana”, o repertório ainda traz “Verdadeira Embolada”, parceria de Chico com Edu Lobo e “A Cidade Ideal”, feita em parceria com Enriquez e Bardoti, para o musical “Saltimbancos”, tudo isso em um roteiro assinado pelo escritor Flávio Braga (autor do livro e peça Sade em Sodoma, que teve a direção de Ivan Sugahara). Todas as composições vão ao encontro da interpretação "de corpo e alma" de Rollo, em harmonia com o sutil e potente toque do piano de Jonathan, gerando uma combinação explosiva, que mexe com todos os sentidos. "Cinco Buarques de Holanda” propõe uma sonoridade com levada e gosto de quero mais. (Rosiane Rodrigues)


Paim se compromete...



Marcos Chagas, Repórter da Agência Brasil

Brasília – O presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado, Paulo Paim (PT-RS), comprometeu-se hoje (25), com representantes da comunidade cigana Calom, do Distrito Federal, a trabalhar na elaboração de um projeto de lei que garanta os direitos do povo cigano. Estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e de institutos que representam os interesses dessa comunidade dão conta de que o Brasil abriga, hoje, entre 800 mil a 1,2 milhão ciganos.
Enquanto ocorria a audiência pública com representantes dos ciganos Calom, na Comissão de Direitos Humanos, Paim determinou que sua assessoria entrasse em contato com órgãos públicos para agendar reuniões na Coordenação para Assuntos de Igualdade Racial (Copir), do Distrito Federal, e na Secretaria de Políticas de Promoção de Igualdade Racial (Seppir), do governo federal.
As 16h, uma comissão de ciganos será recebida na Seppir. Já na Coppir, foi acertada uma reunião para segunda-feira (30), às 14 horas. A audiência pública contou com a presença, também, da deputada Érika Kokay (PT-DF), do deputado Domingos Dutra (PT-MA) e da vice-presidente da CDH, Ana Rita (PT-ES).
A Agência Brasil publicou ontem (24) a série especial "Ciganos: um Povo Invisível".

Entrevista com o escritor Eduardo Galeano

Conexão Repórter (SBT) - No rastro do preconceito

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=mdY64TdriJk&feature=share]
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Informação: Trajetória do combate ao racismo no Br

Proferido hoje (15), em Genebra, Suíça, discurso da Ministra destacou compromisso do governo brasileiro com a afirmação racial, reconheceu relevância do movimento negro para os avanços do combate ao racismo e homenageou Abdias Nascimento
Trajetória do combate ao racismo no Brasil é tema de palestra da ministra da Igualdade Racial na 17ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU
O instrumento das cotas e o Programa Bolsa-Prêmio de Vocação para a Diplomacia foram ações afirmativas citadas hoje (15), pela ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros, para caracterizar o compromisso do Governo do Brasil com a igualdade racial. O discurso, proferido no Painel sobre boas práticas no combate ao racismo, durante a 17ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, em Genebra, Suíça, revelou momentos importantes da trajetória recente para a afirmação da questão racial no país, destacando o papel do movimento negro.
A ministra iniciou o discurso agradecendo o convite do Alto Comissariado para sua participação na 17ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos, justamente em 2011 - Ano Internacional dos Afrodescendentes, após dez anos da III Conferência Mundial contra o Racismo. Outra ressalva introdutória destacou o desempenho dos movimentos sociais negros para que os temas do racismo e da promoção da igualdade racial se consolidassem como questões nacionais.
“Ao longo do século XX, a pauta de demandas de diferentes organizações políticas e culturais formou a base sobre a qual, mais tarde, se construiriam as primeiras respostas do Estado brasileiro no âmbito da igualdade racial”, disse para, em seguida, registrar o falecimento recente do militante Abdias Nascimento, cuja trajetória como escritor, jornalista, artista plástico, dramaturgo, deputado federal e senador, o tornou um ícone dos avanços obtidos pela população negra brasileira.
O Alto Comissariado da ONU conheceu momentos significativos da trajetória recente para a afirmação da questão racial no Brasil. Desde a definição do racismo como crime inafiançável e imprescritível, e o reconhecimento do direito à terra dos Quilombos (Constituição de 1988), passando pela Marcha Zumbi contra o Racismo, pela Cidadania e a Vida, realizada pelo movimento negro em 1995, e a participação do governo brasileiro e da sociedade civil na III Conferência Mundial contra o Racismo, em 2001, até a criação da SEPPIR.
O retrospecto dos marcos histórico revelou ainda que, nos últimos dez anos, o Brasil avançou no debate e no enfrentamento aos efeitos do racismo na vida das pessoas negras, as quais, de acordo com o Censo Demográfico de 2010, representam 50,6% da população total.
O Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR), e as Conferências correlatas, nas quais 60% dos delegados são de organizações da sociedade civil e 40% representam órgãos governamentais, também foram citados entre os mecanismos ligados ao princípio democrático.
Segundo a ministra, são estes mecanismos, instituídos e coordenados pela SEPPIR, que têm contribuído, de um lado, para ampliar a repercussão do debate sobre a questão racial na esfera pública, de outro lado, para assegurar a permanência do compromisso governamental com a igualdade racial. Como resultados desse processo, ela citou a adoção de ações afirmativas, a implementação de programas como o Universidade para Todos (Prouni), a instituição da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra e a execução do Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e da Cultura Afro-brasileira e Africana, taduzido na Lei 10.639/2003.

Informação: ADVOGADO QUILOMBOLA, MEMBRO DO MNU TEM A VIDA AMEAÇADA POR BRIGADIANOS NO RS.

O advogado dos quilombolas do RS, Onir de Araujo, militante e dirigente do MNU-Movimento Negro Unificado - organização nacional de combate ao racismo, e a outra testemunha, solidária com Elder, foram ameaçados por membros da Brigada Militar de Jaguarão- RS, através de cartas apócrifas e pela internet. Entenda a historia.
Conivente e vergonhosamente, na semana que passou, vereadores da Câmara Municipal de Jaguarão, prestou apoio e homenagens aos brigadianos que agrediram e ameaçaram de morte estudante negro baiano que ousou denunciar as violências que sofreu dos mesmos.
Quatro policiais foram responsáveis pelas agressões. Dias depois, o comandante da guarnição, o 3ºBPAF, o Major Ferreira, deu ordens para que seus comandados, em vingança, agredissem o Elder e um colega, durante o carnaval.
Posteriormente, Elder, seu amigo e a diretora da UNIPAMPA, em que estudavam receberam pelo correio, ameaças de morte, como intimidação exigindo a cessassão das denuncias da violência sofrida e de seus autores.
Depois da apuração pelo ministério publico e pelo próprio comando da brigada militar gaucha, onde ficou comprovado as ações arbitrarias dos referidos PM´s, bem como, as denuncias de ameaças de morte através de carta apócrifa, as vitimas e seus defensores, sofrem novas ameaças, agora por carta e a partir do email coorporativo do próprio Major comandante.
O racismo praticado ostensivamente por PM´s contra negros em todo o território nacional, encontra campo fértil no RS, que possui proporção maior de população eurodescendentes diretos, e que nutrem um sentimento de superioridade em relação aos negros, como as elites brancas em todo o pais, seus iguais. Daí os vários acontecimentos de racismo no RS nos últimos meses.
O Jovem atleta Tairone, boxeador de 17 anos, foi assassinado fria e brutalmente, por um PM, simplesmente por inveja do sucesso do menino negro. Vários outros casos ocorreram, como a invasão do Quilombo Silva, na periferia de Porto Alegre, sem justificativa, sob ameaça de armas, agredindo e prendendo um der seus moradores, que ousou questionar a forma violenta e a invasão da comunidade por brigadianos.
As denuncias da população intimidada de Jaguarão, dão conta, de que os policiais em questão, sob o comando do major, constituem uma milícia, que vendem seus serviços aos comerciantes locais, e que intimidam a população negra e pobre da periferia, bem como pequenos agricultores da região.
Não vamos generalizar, muitos cidadãos brancos do RS tem se solidarizado com a luta anti-racista do MN, no entanto, prefeitos, governador, e parlamentares, tem agido na contramão de seus deveres, de defender a população, optando pela conivência e solidariedade aos agressores racistas.
É a elite hipócrita e racista gaucha e brasileira, mantendo política de boa vizinhança com os algozes do povo, para preservar seus próprios malfeitos. Confirmando que uma parte de políticos e policiais, que não passam de malfeitores.
-Repudio total aos bandidos fardados e racistas de Jaguarão!
-Solidariedade Nacional e defesa intransigente aos lutadores do RS -Prisão e demissão dos bandidos pagos com pelo erário publico!
Reginaldo Bispo-Coordenador Nacional de Organização do MNU-Movimento Negro Unificado.

Informação: O QUE É REALMENTE SEGUNDO A LEI.

Injúria Racial x Racismo

A questão mais debatida no meio jurídico é a distinção entre injúria racial e racismo, onde uma começa e a outra termina. A questão é mais simples do que se pensa. Há a injúria racial quando as ofensas de conteúdo discriminatório são empregadas a pessoa ou pessoas determinadas. Ex.: negro fedorento, judeu safado, baiano vagabundo, alemão azedo, etc. O crime de Racismo constante do artigo 20 da Lei nº 7.716/89 somente será aplicado quando as ofensas não tenham uma pessoa ou pessoas determinadas, e sim venham a menosprezar determinada raça, cor, etnia, religião ou origem, agredindo um número indeterminado de pessoas. Ex.: negar emprego a judeus numa determinada empresa, impedir acesso de índios a determinado estabelecimento, impedir entrada de negros em um shopping, etc. Entre as peculiaridades de cada crime encontram-se as seguintes diferenças: o crime de racismo possui penas superiores às do crime de injúria racial; o crime de racismo é imprescritível e inafiançável, enquanto que o de injúria racial o réu pode responder em liberdade, desde que paga a fiança, e tem sua prescrição determinada pelo art. 109, IV do CP em oito anos; o crime de racismo, em geral, sempre impede o exercício de determinado direito, sendo que na injúria racial há uma ofensa a pessoa determinada; o crime de racismo é de ação pública incondicionada, sendo que a injúria racial é de ação penal privada; enquanto que no crime de racismo há a lesão do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, no crime de injúria há a lesão da honra subjetiva da vítima. FATO INTERESSANTE:Na noite de 13 de abril de 2005, durante espetáculo futebolístico televisionado, ocorreu ilícito penal testemunhado por milhares de espectadores.Segundo foi possível notar, um dos jogadores de futebol, de nacionalidade argentina, dirigiu-se a outro, de nacionalidade brasileira; adversário no certame, chamando-o de “negro”. Conforme declarações prestadas à imprensa televisiva logo após os fatos, por um dos advogados do clube de futebol a que pertence o ofendido, este teria informado à autoridade policial solicitada, em depoimento formal, que fora chamado de: “negro” e “negro de merda”.Foi o suficiente para a exploração televisiva, em parte justificável pela conduta do ofensor, de outro condenável pela forma e conteúdo das matérias veiculadas sem qualquer preocupação técnica.Para a legislação penal brasileira, conforme consagrado na jurisprudência e na doutrina a conduta de dirigir-se a outrem o chamando de “negro”, ou mesmo “negro de merda” como na hipótese aventada, não restará configurado o crime de racismo. NECESSIDADE DE CAUTELA NA DIVULGAÇÃO DOS FATOSCom efeito, ao noticiar o ocorrido e apresentar posição jurídica a respeito, cria-se expectativa de medidas policiais e judiciais que logo se verificarão incabíveis à espécie, e então não faltarão críticas injustificadas e maldosas à Polícia, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário.A população destinatária da notícia não compreenderá o descompasso entre o que foi veiculado e as conseqüências jurídicas efetivamente constatadas, e no mais das vezes a mesma imprensa não cuidará de esclarecer os incautos, deixando sempre a névoa sobre fatos que nem comportavam tanta dificuldade de compreensão.O episódio verificado durante a partida de futebol foi lamentável, deplorável, e está por merecer justa reprovação penal.Ao que se pode verificar ocorreu, em tese, crime de injúria racial (artigo 140, § 3º, do CP) e não crime de racismo regulado na Lei 7.716/97.Por outro vértice, não menos lamentável e deplorável foi o sensacionalismo distorcido a que se prestou parte da imprensa em relação ao episódio; e quanto a esta conduta a certeza absoluta é a de que nenhuma punição virá.Contudo, concluí-se que se referindo a uma outra pessoa com dizeres do tipo "negro", "negro de merda", "macaco", "tsão", não estará cometendo o crime de racismo como muitos pensam, e sim uma injúria racial,capitulada no artigo 140, § 3º, do CP.
RODRIGO DE SOUZA COSTA
Guarda Municipal/Varginha- Bacharel/Direito
Fontes de pesquisa:

Informação: Pistoleiros ameaçam comunidades rurais.

Por racismoambiental, 10/06/2011 15:45
As autoridades brasileiras devem investigar os atos de violência e intimidação executados por pistoleiros contra trabalhadores rurais no norte do país, disse hoje a Anistia Internacional, diante das constantes ameaças sofridas por duas comunidades da região.
Na noite de 6 de junho, tiros foram disparados contra um assentamento e um acampamento onde vivem aproximadamente 40 famílias no município de Palmeirante, estado do Tocantins. Essa foi a última de uma série de ameaças que teve início em outubro.
Fazendeiros e pequenos agricultores locais estão envolvidos em um prolongado conflito agrário que tem se intensificado com a utilização de pistoleiros para intimidar os trabalhadores rurais.
“Estamos muito preocupados com a segurança das famílias dessas comunidades, que vivem sob medo constante depois que seus líderes foram ‘marcados para morrer’ por pistoleiros de aluguel”, disse Patrick Wilken, pesquisador sobre o Brasil da Anistia Internacional.
“Para proteger adequadamente os direitos humanos dos integrantes dessas comunidades, as autoridades devem investigar detalhadamente todas as denúncias sobre ameaças e violências, levando os responsáveis à Justiça.”
Em 2003, o INCRA, órgão federal responsável pela reforma agrária no Brasil, criou o Assentamento Santo Antônio Bom Sossego, para receber trabalhadores sem-terra e posseiros, que também se assentaram nas proximidades, no Acampamento Vitória. Desde então, fazendeiros e, mais recentemente, madeireiros ilegais têm se introduzido na área e hostilizado os trabalhadores assentados.
No dia 16 de outubro de 2010, o trabalhador rural Gabriel Vicente foi morto a tiros, supostamente por pistoleiros contratados por um fazendeiro local para intimidar as comunidades. Os pistoleiros também teriam incendiado os barracos das famílias assentadas e feito uma série de ameaças contra os trabalhadores rurais. Cinco membros da comunidade fariam parte de uma lista de pessoas marcadas para morrer.
A resposta da polícia às denúncias dos ataques não foi adequada, o que faz aumentar a cultura de impunidade.
Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), os conflitos agrários causaram mais de mil homicídios no Brasil desde 1970, muito poucos dos quais foram investigados adequadamente.
No último mês, diversas pessoas foram mortas em ataques que pareciam ter como alvo ativistas sociais e de direitos humanos que atuam em áreas da floresta Amazônica brasileira.
“Num contexto em que a economia do Brasil continua a se expandir e as terras rurais são cada vez mais requeridas para agricultura e outros empreendimentos, as autoridades devem assegurar o fim dos abusos contra as comunidades rurais”, disse Patrcik Wilcken.
“As autoridades devem completar o processo de reforma agrária na região e oferecer às comunidades ameaçadas uma segurança duradoura.”


Líderes quilombolas ameaçados de morte
Comunidades lutam para garantir a demarcação de uma área de 20 hectares em Belo Horizonte
12/06/2011
Engana-se quem acha que a luta pela terra está restrita à Amazônia e ao campo. Em Belo Horizonte, a pressão do setor imobiliário também intimida líderes de comunidades que lutam para preservar seu território, até com ameaça de morte. No caso da capital o conflito surgiu a partir da decisão da Prefeitura de permitir a construção de 73 mil apartamentos nos próximos anos para o Mundial de 2014, na chamada “Vila da Copa”, na Região Norte.

A iniciativa virou um drama para a líder quilombola Ione Maria de Oliveira, 43 anos. Ela briga junto com o Ministério Público Federal para garantir a demarcação da área pertencente ao quilombo Mangueiras, que fica em um local conhecido como Granja Werneck, incluído no projeto da prefeitura.

A comunidade quilombola pressiona o Incra para que seja oficialmente decretada a titulação da terra, que fica em uma das últimas áreas de Mata Atlântica da capital. Oficialmente, a Prefeitura reconhece que o território tem apenas dois hectares, dez vezes menos do que estimam os quilombolas, que reivindicam 20 hectares. Ione foi ameaçada pela primeira fez em março do ano passado, por meio de telefonemas anônimos. O agressor queria que ela entregasse o mapa original do quilombo e outros documentos que comprovam o comércio de terras entre a escrava Maria Bárbara de Azevedo, ascendente de Ione, e os antigos donos da Granja Werneck, onde fica o quilombo Mangueiras.

Depois da ameaça, Ione teve o nome incluído na lista da CPT e passou a ser assistida por um programa de proteção aos defensores dos direitos humanos. “Espero estar viva para continuar a lutar pelo nosso território. Não podemos ser expulsos daqui. A comunidade não pode ficar sem ter onde morar porque a prefeitura decidiu que precisa fazer apartamentos para a Copa do Mundo.”

A secretária-adjunta de Planejamento Urbano de Belo Horizonte, Gina Beatriz Rende, reconhece que o projeto viário feito inicialmente para a região não levava em conta a existência do quilombo. “O projeto previa que uma pequena área do quilombo fosse afetada pelas obras de construção de rodovias no local. Logo que percebemos esse problema, mudamos a configuração do projeto imediatamente.” A Prefeitura de Belo Horizonte está aguardando a decisão do Incra sobre a demarcação da área do quilombo. “Enquanto a demarcação não for feita, não vamos nos manifestar.”

Temor pela vida de netos e bisnetos

A família de Ione também está apreensiva com a situação. Dona Wanda Oliveira, 68 anos, conta que além de temer pela vida da filha, tem medo também pelos netos e bisnetos, todos vivendo no quilombo. “Somos muitas pessoas de uma mesma família vivendo aqui. Tenho dez netos e três bisnetos e não quero que nada de ruim aconteça com eles.”

O coordenador de conflito agrário do Ministério Público de Minas Gerais, Afonso Henrique de Miranda, lembra que a questão agrária no Brasil tem dois traços distintos: os ligados à demanda pela terra no campo e na floresta, que mobiliza movimentos sociais ligados à reforma agrária, e aqueles que envolvem as populações remanescentes de quilombos. “As áreas remanescentes de quilombos são consideradas pelo artigo 68 da Constituição como patrimônio histórico e cultural nacional. Nosso dever é zelar pelos bens da União. Essa discussão não deveria nem estar acontecendo. Se é uma área quilombola, não há como se construir nada nela. O problema é que o lobby das construtoras é muito grande e os governos são coniventes com ele.”

Ainda segundo o promotor, a escassez de áreas para a construção de grandes empreendimentos nas regiões metropolitanas tem feito com que as grandes construtoras não meçam esforços para garantir seu negócio. “O interesse econômico acaba preponderando. O rolo compressor do dinheiro esmaga quem estiver na frente, não importa quem seja.”

Um relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT) revela que, em Minas, houve em 2010 duas tentativas de assassinato no Norte do Estado e duas ameaças de morte a líderes de assentamentos e de comunidades quilombolas. A comissão denuncia a omissão de governos e da Justiça. “O que está acontecendo em todo o Brasil é extermínio, um genocídio”, diz o assessor da CPT em Minas Gerais, Frei Gilvander Luiz Moreira.

‘Imagino a hora em que vão entrar aqui para me matar’

A luta para garantir o direito de 57 quilombolas que ocupam uma área adjacente ao projeto em Belo Horizonte transformou a vida de Ione Maria de Oliveira, de 43 anos. Ameaçada de morte desde março do ano passado, Ione conta que nunca mais conseguiu fechar os olhos e ter uma noite de sono tranquila. “Acordo muitas vezes chorando e não consigo voltar a dormir. Depois das ameaças, eu não sou a mesma pessoa. Às vezes não consigo sequer ir trabalhar, sair de casa, de tanto medo.”

Ione revela que as ameaças foram feitas por meio de telefonemas para sua casa e para seu celular durante várias madrugadas seguidas. Ela também recebeu uma carta com imagens e textos que relembravam a morte de vários líderes que lutaram pelos direitos humanos. “Essa carta dizia que se até Chico Mendes foi assassinado porque eu não seria.”

A quilombola diz também que as ameaças começaram logo depois que uma equipe de antropólogos da UFMG finalizou a elaboração do Relatório Antropológico de Caracterização Histórica, Econômica e Sociocultural do quilombo, que integra um processo já bem avançado de titulação junto ao Incra. O relatório atesta que a área pertencente ao quilombo é de 20 hectares e não de 2 hectares, como quer a prefeitura. “Temos tudo documentado e isso está irritando a prefeitura, que deseja que vias públicas passem aqui dentro do quilombo.”

Ainda segundo o relatório, terras da região foram doadas em 1916 para a construção de um sanatório, que funcionou algum tempo e depois foi desativado. Em 1983, lei de iniciativa do prefeito retirou os gravames da doação, mas manteve a doação à Granja Werneck S/A, que agora estaria transferindo o terreno para empreendedores. O relatório também confirma que os escravos do quilombo compraram as terras onde fica a comunidade dos ex-donos da Granja Werneck .

Mesmo depois de ter o nome incluído na lista de pessoas ameaçadas, Ione diz que não se sente amparada nem protegida pelo Estado. “Só pude ter acesso à ONG que me presta acompanhamento psicológico oito meses depois que as ameaças começaram. Segurança policial , não tenho nenhuma. Só fico imaginando a hora em que eles vão entrar aqui no quilombo para me matar.” Ione protocolou no Ministério Público Federal uma representação contra a desapropriação das terras do quilombo. Em nota, o MPF informou que já instaurou procedimento para averiguar o caso e pediu ao Incra mais informações sobre a situação do quilombo. A procuradoria deu prazo até o início de julho para o Incra se manifestar.

No Mangueiras, além de conviver com a incerteza sobre o futuro do quilombo, as 12 famílias que vivem no local, ao todo 57 pessoas, ainda são obrigadas a conviver com a degradação ambiental provocada pelos ocupações irregulares no entorno. O presidente do quilombo, Maurício Moreira dos Santos, 53 anos, diz que as águas das cinco nascentes estão contaminadas. Segundo ele, obras de infraestrutura realizadas no Bairro Lajedo, culminaram na canalização de um esgoto, que acaba sendo despejado nas nascentes. “O pior é que tudo é feito com anuência da prefeitura”, diz.

Fonte: Hoje em Dia

Secretaria de Direitos Humanos acompanha situação dos quilombolas no Maranhão

Data: 10/06/2011


A ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), telefonou nesta sexta-feira (10) para os quilombolas que realizam manifestações contra a violência no Maranhão. Ela reforçou a disposição do governo para o diálogo e disse que ninguém precisa entrar em greve de fome para falar com o governo federal.
Na quinta-feira (9), dezessete quilombolas e dois padres da Comissão Pastoral da Terra entraram em greve de fome para protestar contra a violência sofrida por líderes do movimento quilombola no estado.
Estamos trabalhando para resolver esta situação da melhor possível, mas faço um apelo para que seja encerrada a greve de fome para que a saúde de ninguém fique comprometida. Estamos abertos ao diálogo”, enfatizou a ministra Maria do Rosário, que telefonou para a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, pedindo reforço na segurança das comunidades quilombolas do estado.
A pauta de reivindicações dos quilombolas foi entregue à SDH/PR e uma equipe do Governo Federal acompanha os desdobramentos. Além da SDH/PR, integram essa equipe a Secretaria-Geral da Presidência da República, o Ministério do Desenvolvimento Agrário e a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir).
Na próxima terça-feira (14), representantes da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos e do Programa Defensores dos Direitos Humanos da SDH/PR vão até o Maranhão acompanhar a situação in loco. A ministra Maria do Rosário se colocou à disposição para ir até o local em breve,
junto com a ministra Luiza Bairros (Seppir).

Ação criminosa: Policiais da Brigada Militar gaúcha ameaçam ativistas

negros



Por: Redação - Fonte: Afropress - 11/6/2011
Porto Alegre/RS - O advogado Onir Araújo, militante do Movimento Negro Unificado (MNU), em Porto Alegre, e o líder do Movimento Negro de Pelotas, Cláudio Rodrigues, estão recebendo ameaças de morte atribuídas a soldados da Brigada Militar gaúcha.

As ameaças chegaram aos dois ativistas por meio de correspondência anônima e estariam relacionadas à participação de ambos na defesa do estudante baiano Helder Santos. Em março passado, o estudante denunciou ter sido agredido por policiais militares e alvo de ofensas de cunho racista e passou a ser perseguido, sendo obrigado a deixar Jaguarão, onde estudava, e a voltar para Feira de Santana, sua cidade de origem.

O advogado suspeita que os autores das ameaças sejam os mesmos policiais militares envolvidos na agressão ao estudante e que foram denunciados pelo promotor Luiz Eduardo de Oliveira Azevedo, do Ministério Público Militar: o 3º sargento Carlos Ricardo Ávila e os soldados Alvair Ferreira Rodrigues, Osni Silva Freitas e Leandro Souza da Silva, todos acusados de agressão e injúria racial.

Araújo disse que nesta segunda-feira (13/06), pedirá ao Ministério Público Militar, a prisão preventiva dos envolvidos "cujo comportamento apresenta indícios de coação e ameaça de testemunhas, inclusive de profissionais que atuam no caso".

Pelo correio

A ameaça a Araújo chegou na última terça-feira, pelo correio. Uma carta anônima endereçada a ele, postada na Agência dos Correios de Jaguarão, trazia os seguintes dizeres: “Se tu não pará de investigá o caso do bahiano tu vai morre. O próximo sangue será o teu! – Jaguarão”. O português propositadamente errado, segundo Araújo, denuncia a intenção de despistar a autoria.

O caso está registrado no Pronto Atendimento do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC) e o material foi recolhido para a perícia.

Jaguarão

No caso das ameaças a Rodrigues, teriam partido do major José Antonio Ferreira da Silva, comandante do 3º BPAF, de Jaguarão. Por meio de e-mail o militar enviou a seguinte mensagem a Rodrigues e outros ativistas do Movimento Negro de Pelotas: “Seus amantes de negros sei que são vocês e este tal de J. S. Says que estão me queimando (...) Se vocês continuarem falando mal de mim do Sargento Avila e do soldado Osni no Caso do Helder Santos vocês vão se dar mal. O baiano já voltou pra terra dele e este assunto esta morto e encerrado. Vamos acabar com este assunto logo de uma vez e parar com este papinho de injustiça porque esse neguinho só levou uns croques da polícia e nada mais. Vamos parar com essa conversinha mole de racismo que isso é coisa de fresco”, conclui a ameaça.

O caso foi registrado por meio do Boletim de Ocorrência 14645/2011, de 03 de junho, como ameaça consumada.

Estado de Direito

O advogado disse que, além da denúncia pública, tomará todas as providências visando responsabilizar as autoridades da Segurança Pública do Estado, incluindo o próprio governador Tarso Genro (PT), que é a quem a Brigada Militar está subordinada. “O que está em jogo são princípios fundamentais que balizam o Estado Democrático de Direito”, afirmou.

Ele também já pediu ao Ministério Público Militar o afastamento do major José Antonio Ferreira da Silva, do Comando da BM de Jaguarão.

Quilombolas têm quase um milhão de hectares no Brasil




O levantamento Terras Quilombola: Balanço 2008, divulgado recentemente pelaComissão Pró-Índio de São Paulo, revela que os territórios quilombolas regularizados no Brasil estão chegando à marca de um milhão de hectares.
Essa área - mais precisamente, 980 mil hectares - está distribuída em 96 territórios quilombolas e 185 comunidades. Se considerarmos todos os títulos já concedidos (incluindo os não regularizados, cujo valor legal ainda pode ser questionado), a conta passa de um milhão de hectares (1.171.213 até setembro de 2008).
Embora os números pareçam significativos, a própria Comissão Pró-Índio ainda os considera pequenos em relação à quantidade de comunidades quilombolas existentes no país, estimada em três mil.
A luta pela titulação das terras dos remanescentes de quilombos no Brasil é antiga e ganhou força a partir da Constituição Federal de 1988, que garantiu às comunidades o direito a suas terras.
“Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os respectivos títulos”(Artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias - Constituição Federal de 1988)
Em 2008, o movimento pela titulação e regularização das terras quilombolas sofreu um grande revés, quando foi publicada a Instrução Normativa no. 49, que vincula a abertura de processo para titulação das terras a uma certidão emitida pela Fundação Cultural Palmares.
Na prática, segundo a Comissão Pró-Índio, a nova regra desrespeitaria o direito à auto-identificação, garantido pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e no Decreto 4887/2003.
O documento divulgado pela Comissão Pró-Índio também alerta para a queda da titulação das terras quilombolas pelo governo federal. Nenhum território foi titulado em 2008 e apenas dois em 2007.
No ano passado, as titulações foram decorrentes de processos estaduais, emitidos pelos governos do Pará, Piauí, e Maranhão. No total, foram beneficiadas 1225 famílias em 23 comunidades e 16 territórios quilombolas. A área titulada passou de 36 mil hectares, sendo 25 mil apenas no Pará.
Segundo o relatório, um dos entraves à concessão mais ágil dos títulos é a pouca capacidade do Incra em atender à demanda.
“Dados de dezembro de 2008 indicam que dos mais de 600 processos abertos pelo Incra somente 220 tiveram algum andamento. O restante apenas recebeu um número de protocolo”, indica o texto.
O documento também faz um apanhado das disputas judiciais envolvendo os territórios quilombolas, no qual observa que as ações tentando paralisar os processos atingem apenas 14 terras quilombolas, pouco se considerarmos os 600 processos em curso.
A primeira comunidade a receber o título de terra na condição de remanescente de quilombola no Brasil foi a comunidade de Boa Vista, no município de Oriximina (PA), concedido pelo Incra em 1995. Na ocasião, 112 famílias receberam 1.125 hectares de terra.
Geralmente associados no imaginário popular a núcleos de resistência de negros fugidos contra a escravatura, estudos recentes as comunidades de quilombo se constituíram a partir de uma grande diversidade de processos.
Esses processos incluiriam as fugas com ocupação de terras livres e geralmente isoladas, mas também as heranças, doações, recebimentos de terras como pagamento de serviços prestados ao Estado, simples permanência nas terras que ocupavam e cultivavam no interior de grandes propriedades, bem como a compra de terras, tanto durante a vigência do sistema escravocrata quanto após sua abolição.
“O que define o quilombo é o movimento de transição da condição de escravo para a de camponês livre”(texto da Comissão Pró-Índio de São Paulo)

Para a Comissão, entretanto, a principal motivação da Instrução Normativa nº 49/2008 não é conceitual e, sim, um mecanismo de impor “novos empecilhos burocráticos ao processo destinado a identificar e titular as terras quilombolas”.
Em texto publicado no seu site, a entidade se posiciona claramente:
- O recuo é uma clara tentativa de contemporizar com os interesses contrários de grupos econômicos e de parlamentares da base aliada do governo que vêem questionando na imprensa e no legislativo a legitimidade dos direitos quilombolas.
Equipe Áfricas