sexta-feira, 8 de julho de 2011

Estereótipos do negro nas telenovelas Insensato Coração e Rebelde


Com a internet aumentamos muito a nossa capacidade de comunicação e ganhamos um pouco mais de visibilidade social. Através de emails e redes sociais ampliamos e intensificamos a circulação de informações sobre temas específicos como a presença do negro na mídia e temos criado nossa própria mídia, com sítios, blogs e comunidades virtuais. Em particular sobre as telenovelas temos agora mais oportunidade de opinar sobre o desempenho e os personagens de atores e atrizes negros.


Na atual temporada de novelas duas chamam a atenção Insensato Coração da TV Globo e Rebelde da TV Record.

Em Insensato Coração Lázaro Ramos é o galã canastrão, machista, sedutor, e um profissional bem sucedido que não quer nenhum relacionamento sério com as mulheres e que se vê apaixonado por uma delas. Em Rebelde uma família negra de classe médiasuburbana enredada com a ascensão social de um dos filhos e dos conflitos por isso criados. Um dos destaques da trama é o alcoolismo do chefe de família interpretado porAntônio Pompêu.

Para desagrado de muitos telespectadores os personagens não fogem dos estereótipos mais comuns dos personagens negros nas telenovelas.

Telespectadores, nós sabemos não são críticos de telenovelas, são audiência e suas opiniões são muitas vezes descartadas e algumas vezes servem como referência para os rumos da trama. A influência da opinião de negros numa trama só foi relevante uma ou outra vez em manifestações de racismo explícito sem a devida “punição” ou “correção” ou ainda “erro histórico” em novelas sobre o período da escravidão.

Contudo, na telenovela em geral pela natureza da sua narrativa como um folhetim eletrônico os personagens são sempre estereotipados para serem facilmente compreendidos pelo público.
Os personagens negros num regime de racismo ocultado como o brasileiro, que se caracteriza pela invisibilidade pública do negro ou por representações super estereotipadas do noticiário à ficção, fica mais flagrante o índice dessas representações típicas. Estas características tornam os personagens negros mais marcantes especialmente se são representadas por atores ou atrizes famosos.
Milton Gonçalves, o "pai" alcoólatra de Lázaro Ramos o galã negro na novela Insensato Coração
No caso do personagem de Lázaro Ramos chama à atenção o fato de seu desempenho sexual e profissional não corresponder a uma realidade visível do grande público gerando um estranhamento das opiniões sobre sua legitimidade como galã. Em algum momento seu desempenho sobre o personagem pareceu mesmo “forçado” conforme o próprio ator se manifestou o que parte do público já havia observado com mais ou menos preconceito sobre o galã negro.

Zezé Motta esposa do alcoólatra interpretado por Antonio Pompeu:
Na telenovela Rebelde o estereótipo do alcoolismo pode ser um dado menor num elenco principal de cinco atores e atrizes negros com personagens variados, mas do modo como foi observada a opinião de alguns telespectadores pelo editorial da Revista Raça Brasil isto se tornou mais relevante.
Para o editor-chefe da Revista Raça Brasil o alcoolismo do personagem é um acidente passível da vida de qualquer um “o alcoolismo é uma doença, não é um fator racial”, diz, André Rezende. E quem discordaria disso? Mas chama a atenção, que em Insensato Coração, o pai do personagem de Lázaro Ramos interpretado por Milton Gonçalves, único membro de sua família, seja um alcoólatra. Coincidência, dirão alguns.

Mesmo que se destaque a observação de Zezé Motta de que ela é do tempo “em que o negro na novela não tinha família” - e isso não faz tanto tempo assim. No canal ali ao lado, na TV Globo o galã negro não tem família e o pai é alcoólatra.

Por maior boa vontade que tenha o nosso otimismo de que houveram mudanças nas estórias das telenovelas - e elas ocorreram - podemos ainda verificar sem qualquer dificuldade a repetição dos estereótipos mais comuns - do noticiário à ficção - em relação aos personagens para atores e atrizes negros. Esta repetição ocorre porque ainda são muito poucos os papéis atribuídos aos negros na teleficção com isso a intensidade dos personagens mais comuns principalmente os vilões ou as vilanias ficam mais acentuadas, além da “leitura” que o código do racismo nos orienta e nos deixando alertas para as usas evidências e surpresas.

Precisamos de muitos mais papéis e protagonismos de negros para que seja diluída esta visão que parece irritar o editor da Raça: “ os avanços estão aí para qualquer um perceber, porém, a forma como boa parte da própria comunidade negra encara essas mudanças dá a impressão de que os antigos estereótipos - bandido, traficante pobre, morador de rua... -, são os verdadeiros parâmetros para medir o sucesso e o talento de um ator negro”. Em que pese a boa vontade de corrigir os excessos da crítica pessimista dos telespectadores o editor da Raça também se excede no otimismo da mudança. Ou não, o que você acha?

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